domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Planeta do Amor...


Camisa de Vênus é uma banda de Salvador surgida nos anos 80. Logo que se evidenciaram na mídia, a Som Livre puxou o grupo para seu comando sob a condicional de mudarem o nome Camisa de Vênus para outro qualquer. Marcelo Nova, sempre excêntrico, sugeriu então que o nome passasse a ser Capa de Pica. A Som Livre, que de livre não tinha nada, interrompeu aquela promissora gestação, abortando após 3 meses de lançamento.

É...Pelo visto, essa camisa de vênus estava furada.

Porém, após dois anos de abstinência, a banda retorna por outra gravadora e estoura com a música "Eu não matei Joana D'arc". Ok, camisa de vênus não matou Joana, mas o planeta Vênus certamente a mataria. Ela, uma moça que por ouvir vozes morreu queimada, não teria um destino muito diferente se fosse bater papo com o além nas dependências do planeta, afinal, Vênus é justamente o corpo mais quente do nosso sistema solar.

Vênus era inicialmente visto como o planeta irmão da Terra. Tinham ambos as mesmas dimensões, massa, densidade e volume. Formados ao mesmo tempo e a partir da mesma nebulosa, eram praticamente gêmeos que dividiram a mesma placenta. Entretanto, Vênus seria o gêmeo malvado que se disfarça de bonzinho ao ser intitulado o planeta do amor.

Amor? Fala sério!

Amor é inspirador, e Vênus definitivamente não é um planeta para se inspirar. Na verdade, o mais indicado seria expirar, já que quando fazemos isso liberamos o gás carbônico, principal componente de sua atmosfera e responsável pelo efeito estufa do planeta.

A menos que a pessoa seja muito carente de afeto e atenção, ninguém gosta de amor efeito estufa. Aqueles amores que te deixam com tanto espaço para respirar quanto um ônibus em horário de pique com frota reduzida.

Quem ama não gosta de se sentir pressionado, e isso é uma tarefa impossível em se tratando de Vênus já que ele tem uma pressão atmosférica 92 vezes maior que a Terra. Ou seja, namorar alguém em Vênus seria complicado, pois a clássica desculpa "hoje não amor, estou com dor de cabeça", não seria uma mentira nesse planeta.

As nuvens em Vênus são compostas por gotas de ácido sulfúrico. Caso você não tenha noção do que isso seja, esfregue um pedaço de cebola crua nos seus olhos. Não me espantaria se o clássico sertanejo “Nuvem de Lágrimas” (vamos lá, eu sei que vocês conhecem:
há uma nuvem de lágrimas sobre meus olhos...) fosse um hit nas rádios venusianas.
A temperatura de Vênus é de aproximadamente 482°C, e conforme já foi dito, a camada de gases mantém o calor irradiado pelo Sol preso dentro dessa densa atmosfera, fazendo, portanto, com que Vênus seja mais quente do que Mercúrio, mesmo estando esse mais perto do Sol.

O período de translação de Vênus é de 225 dias terrestres, ao contrário dos 88 dias de Mercúrio. A diferença entre ambos é justamente pela maior distância que Vênus tem do Sol em relação a Mercúrio. Como Vênus está mais longe, o trajeto que ele precisa fazer para dar a volta em torno do Sol será maior, e consequentemente, o período orbital também.

Entretanto, o que é realmente interessante, é que a rotação de Vênus é maior do que o seu ano. Sim! Um dia venusiano dura 243 dias terrestres. Ou seja, o dia deles é tão grande que quando acaba já se passou um ano (todo dia é reveillon, todos as festas cabem no mesmo dia e todos fazem aniversário juntos, que tédio.).

E você que reclamava que o dia no seu trabalho demorava para passar, né? Vai morar em Vênus para ver o que é bom. Pelo menos, com 30 dias de trabalho você já poderia se aposentar.

Pela proximidade de tempo entre a rotação e a translação de Vênus, nós aqui da Terra vemos sempre a mesma face do planeta. (Não que fossemos capazes de diferenciar o que é face e o que não é. Veríamos um pontinho brilhante e distante de qualquer forma). Uma explicação muito boa quanto a isso está
NESTE VÍDEO (clique aqui).

O que torna esse corpo tão brilhante a ponto de ser conhecido como estrela d'alva e também como estrela vespertina (calma, é a mesma... é Vênus, esse planetinha duas-caras... só uma questão de horário em que aparece no céu), é que a espessa camada de gases na sua atmosfera faz com que 76% da luz solar seja refletida. Portanto, sem brilho próprio e iluminada graças uma estrela verdadeira, Vênus é praticamente a revista Caras do sistema solar.


A bandeira do Japão teria de ser alterada caso estivéssemos em Vênus. Isso porque o planeta tem uma rotação retrógrada. Ou seja, ele gira de leste para oeste, ao contrário da Terra. Assim, Japão seria a terra do sol poente, já que o que define o lugar onde o Sol nasce é a própria rotação do corpo celeste.

Pelo menos 85% da superfície de Vênus está coberta com rocha vulcânica. O que nos leva a crer que um planeta tão temperamental quanto esse não nos surpreende que não tenha satélites, afinal, nem a lua o aguentaria.

E ainda chamam de planeta do amor. Nossa, quem foi que deu essa alcunha à Vênus? O Massaranduba?

No próximo capítulo, Terra, o planeta que com tanta terra e água poderia ser uma argila gigante.

2 comentários:

Marcos* disse...

Seu texto sobre Vênus é, literalmente, uma viagem! Além de um salto-relâmpago por sobre os 42 milhões de quilômetros que separam a Terra desse "planeta-irmão", também me levou numa viagem pelo TEMPO - de volta à época em que eu, com meus saudosos dez, doze anos, sentava no chão da sala todo sábado de manhã para assistir à série Cosmos, apresentada pelo não menos saudoso Carl Sagan, e que eu não perdia por nada deste mundo - nem de nenhum outro, por falar nisso. Aquilo sim, era fascinante... Bem, Vênus, como os outros planetas do Sistema Solar, não podia imaginar, na época em que se formou, que seria batizado com o nome de uma deusa, de modo que o rótulo de "planeta do amor" é arbitrário, mas, como a deusa, ele também tem uma face que nos mostra e outra que guarda para si.

Comentarista Abalizado disse...

Escreverá outro texto antes que o ano novo venusiano se dê?